E passaram 2 anos. Ganhei oficialmente o título da pior blogger de
sempre. O que se segue também está a concurso para o artigo mais longo da
história dos blogs e quem quiser tem autorização para ir já para a receita bem
lá em baixo que a época dos espargos e do funcho está num lusco-fusco e cada
minuto conta! Os mais curiosos podem-se ir instalando confortavelmente que
vamos ficar por aqui um bocado.
Foram 2 anos tão cheios de tudo e de nada que nem sei muito bem
por onde começar. Talvez puxando ainda mais lá atrás e falando de algo que
pouca gente sabe e que nunca falei assim tão abertamente e em público. A
verdade é que tenho andado aos trambolhões com uma tal de depressão há já quase 4
anos. Sou super extrovertida e adoro divertir-me e aproveitar todas as levezas
da vida, mas também tenho uma tendência muito minha para me passear pelos
cantos escuros da alma. Às vezes por mais tempo que o recomendado. Depois misturei
isso com uma insustentável exaustão e uma enorme resistência em aceitar algumas
mudanças inesperadas e irreversíveis na minha vida. Tudo o que acreditava como
verdade foi estilhaçado e eu perdi a noção do meu próprio valor. Uma amálgama
perigosa cheia de desgosto e desilusão.
A depressão é uma doença muito séria e apesar de afectar muita
gente, ainda é muito mal entendida. Há um grande tabu à volta dela, muita
vergonha e também muito pouca tolerância e aceitação. Não é simplesmente
ficarmos tristes ou desanimados e não, não passa se formos dar uma volta para
espairecer e nos animarmos. É uma doença muito violenta, que põe em perigo a
nossa vida e nos rouba a alma. Afecta as nossas relações, a nossa
produtividade, a nossa perspectiva. Perdemos a fé. A confiança. Ficamos vazios,
marionetes de nós próprios em piloto automático. Perdemos a capacidade de saber
pedir ajuda, de acreditar que ainda é possível sequer ter ajuda, encurralados
num labirinto de becos aparentemente sem saída. Sente-se culpa, vergonha. Um
cansaço inexplicável, persistente que nos persegue por todo o lado. A vida
ganha uma tonalidade cinza tão escuro que pesa como chumbo e é um lugar muito solitário,
confuso e sufocante. Tudo ao mesmo tempo. Todos os dias.
Durante estes últimos anos fui passando por várias fases, umas
melhores que outras, algumas em que pensei que já tinha passado e outras em que
voltei a cair no abismo. Períodos mais funcionais que outros. Noites sem pregar
olho, dias seguidos sem me conseguir levantar da cama e outros bastante
produtivos e alegres até. Momentos escuros realmente perigosos e outros mais
luminosos e tranquilos.
O meu último tropeção aconteceu nos últimos
meses do ano passado e trouxe com ele uma grande amiga íntima da depressão. A
ansiedade. Chegou tarde à festa, mas não se fez nada tímida e mostrou-se logo em
todo o seu esplendor, nua e crua. Desarrumou muitas gavetas que me tinham dado
muito trabalho a arrumar e espalhou tralha por todo o lado nesta mente
macaquinha. Tive crises de pânico que me apanhavam completamente desprevenida,
traiçoeiras, sem se importarem onde e com quem estava. Despoletavam ao mínimo
estímulo e fragilizaram-me muito. Andei perdida outra vez, mas também de alguma
forma sinto que foi o início de uma nova fase que me fez procurar mais ajuda e me tornou mais forte.
Tenho noção que a minha facilidade em me alegrar com a
simplicidade das coisas, numa enorme contradição eu sei, me tem ajudado muito.
O trabalho também. Foi muitas vezes a minha tábua de salvação. E algumas
pessoas, que mesmo me vendo perdida no meu pior, não saíram do meu lado. Isto
tem um impacto profundo em quem nos rodeia e nem toda a gente consegue lidar
com as feiuras dos outros.
Tem sido um longo e incrível processo de cura, descoberta e
auto-conhecimento. Cheio de avanços e recuos. Tenho lido e estudado muito sobre isto. Tenho experimentado vários tipos
de terapias. Das mais clássicas às mais alternativas. Às vezes sou mais
resistente que outras. Aliás, acho que na verdade resisti durante muito tempo. Por
vergonha. Por orgulho. Por me sentir mais inteligente que o chorrilho de
clichés e frases feitas de auto ajuda e psicologia barata que ouvi tantas
vezes em tantos consultórios. Por preguiça, que isto de sair do escuro dá uma
trabalheira do caramba. Mas a cura só começa a acontecer realmente quando nos
entregamos verdadeiramente a ela (e assim, meus caros leitores, nasce uma nova
guru da auto ajuda) e tudo isto tem-me ajudado a descobrir e aceitar toda a
minha vulnerabilidade e a transformar as minhas fraquezas nos meus trunfos. Sim…
A guru em mim está definitivamente desperta!
No meio disto tudo não me sobrava grande tempo nem espaço mental para
o blog e outras socialidades em rede. E conforme o tempo ia passando, eu também
ia criando cada vez mais pressão e expectativa em volta do meu regresso as
estas lides. Quanto mais tempo passava mais eu sentia que o artigo tinha de ser
perfeito, super original e com as melhores fotografias de sempre. Afinal o que
é as pessoas iam pensar que eu tinha andado a fazer este tempo todo?
Depois senti mesmo necessidade de me afastar. De desligar. Cheguei
até a tirar o instagram do telemóvel. Não conseguia lidar com tanta informação,
tanto estímulo, tanta inspiração que me deixava exausta E sentia que não tinha nada
a acrescentar a tanto ruído. Sei que todo este conflito com as redes sociais
era um sintoma de tantas outras questões bem mais profundas.
Lido muito com a necessidade que me aceitem, que gostem de mim e
convenci-me que tinha de ser perfeita e a melhor em tudo para que isso
acontecesse, num caminho devastador de extrema exigência, auto sabotagem, muita
comparação e inseguranças. E claro, uma aplicação voyeurista, de vidas perfeitas
curadas ao pormenor como numa galeria de arte, não ajuda muito à causa.
Foi extremamente libertador este vazio das redes. E principalmente
depois de ter falado sobre isso um bocadinho no próprio instagram,
contraditório eu sei. Senti a minha criatividade a voltar, honesta e sem
comparações. A vozinha perfeccionista baixou um bocadinho o volume e eu voltei
a sentir-me mais eu e mais livre. Voltei finalmente a fotografar para e por
mim.
Não sei se são as minhas melhores fotografias, a minha melhor
receita, o meu melhor artigo. Mas sinto-me orgulhosa de estar aqui outra vez.
Perfeitamente imperfeita, vulnerável, cheia de defeitos, contradições e afins.
Complexa e transparente. Humana. Mulher. Estou aqui.
...e a gostar, talvez demasiado, deste meu novo talento guru.
Sei que não tinha de explicar nada sobre a minha ausência, mas
para mim também não fazia sentido voltar assim do nada depois de tanto tempo.
Escrever sobre isto é também um exercício muito libertador e que me ajuda a
perceber e consolidar todo o meu percurso até aqui. Também espero que ajude a
desmistificar o assunto e a chegar a quem esteja a passar pelo mesmo e a quem
conheça e goste de alguém que esteja a passar por esta doença. Das coisas mais difíceis é convencermo-nos que nunca ninguém vai
perceber, que nunca vamos conseguir e o isolamento e a solidão podem pregar
partidas perigosas na mente.
Mas vamos mas é à receita, que isto é um blog culinário afinal de
contas. Conseguiram chegar até aqui?
Estas fotografias foram tiradas há quase 2 meses, na altura em que
o funcho e os espargos eram os reis dos mercados. Mas a vida aconteceu pelo
meio e alguns projectos profissionais foram adiando o regresso ao blog e agora
estou a lançar uma Salada Primavera em meados de Julho. Mas passados 2 anos,
também quem é que repara nessas coisas?
Na verdade a grande estrela desta receita é o molho, que acreditem
ou não foi feito a primeira vez num daqueles dias desinspirados e com o
frigorífico quase vazio. Tinha sementes de girassol a demolhar para um outra
experiência e lembrei-me de tirar algumas para fazer um molho para o almoço. No momento de as bater no liquidificador descobri um frasco de
alcaparras esquecido no frigorífico e o que resultou a seguir foi
demasiado bom para não repetir com os devidos ajustes dignos de uma partilha.
Tenho-o feito muitas vezes e fica delicioso em todo o tipo de saladas, legumes
cozidos ou assados. Esta versão com as sementes de girassol é a mais económica
e leve, mas também podem experimentar com cajus. Fica irresistivelmente guloso!
A salada em si é muito simples e pode funcionar como uma refeição
leve ou um acompanhamento, combinando batatas cozidas com outros verdes e
legumes da época. Feijão verde e favas também resultam muito bem neste género
de saladas. Courgette em fitas. Rúcula, espinafres, beldroegas…
Espero voltar em breve que dei conta que tinha demasiadas saudades disto!
Espero voltar em breve que dei conta que tinha demasiadas saudades disto!
Salada Primavera com Molho de Sementes de Girassol e Alcaparras
V / SG
Serve 4
25 min preparação + tempo de demolhar
Ingredientes
Salada Salada Primavera
550 g de Batatinhas Novas
150 g de Espargos, fininhos
200 g de Ervilhas, frescas ou congeladas
1 bolbo de Funcho + rama
125 g de Agrião (ou outras folhas verdes)
2 colheres de sopa de Alcaparras
1 colher de sopa de Hortelã fresca, só as folhas
1 colher de sopa de Cebolinho picado
Molho de Sementes de Girassol e Alcaparras
150 g de Sementes de Girassol
75 ml de Água ou Leite Vegetal natural
1 colher de sopa de Alcaparras
Sumo de 1/2 Limão
2 colheres de chá de Mostarda Dijon
1 colher de chá de Xarope de Tâmaras ou outro adoçante líquido natural
2 colheres de chá de Levedura Nutricional
1 colher de sopa de Cebolinho picado
1 colher de sopa de Funcho, rama
Sal Marinho
Pimenta Preta moída na hora
Preparação
Molho
Comece por colocar as sementes de girassol de molho em água abundante por 8 horas.
Escorra bem a água de demolhar e lave as sementes.
Coloque todos os ingredientes com a excepção das ervas aromáticas num liquidificador e bata até ficar bem cremoso e macio.
Acrescente as ervas e volte a bater ligeiramente de maneira a não as desfazer totalmente.
Verifique os temperos e rectifique se necessário.
Pode ser conservado num frasco hermético no frigorífico até 2 dias.
Salada
Comece por lavar e arranjar os vegetais.
Corte o funcho em fatias bem fininhas. Uma mandolina ajuda bastante!
Separe as folhinhas de agrião, de hortelã e pique a rama do funcho e o cebolinho
Coza as batatas inteiras em água a ferver temperada com um pouco de sal por 10 a 15 minutos até ficarem tenras.
Retire as batatas, deixe arrefecer e corte em metades ou quartos.
Escalde os espargos e as ervilhas na água fervente por 2 ou 3 minutos.
Escorra e passe por água fria para travar o cozimento.
Numa saladeira bonita ou numa travessa combine todos os ingredientes delicadamente.
Sirva acompanhada com o molho e gomos de limão para maior frescura.
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Spring Salad with Sunflower Seed & Capers Dressing
V / GF
Serves 4
25 min + soaking time
Ingredients
Spring Salad Salad
550 g of New Potatoes
150 g Asparagus, thin
200 g Peas, fresh or frozen
1 bulb of Fennel + branch
125 g of Watercress (or other green leaves)
2 tablespoons of Capers
1 tablespoon fresh mint, just the leaves
1 tablespoon chopped chives
Sunflower Seed & Capers Dressing
150 g of Sunflower Seeds
75 ml of Water or Natural Vegetable Milk
1 tbsp Capers
1/2 Lemon Juice
2 tsp Dijon Mustard
1 tsp of Date Syrup or other natural liquid sweetener
2 tsp Nutriticional Yeast
1 tbsp chopped Chives
1 tbsp Fennel, sprigs
Sea salt
Ground Black Pepper
Directions
Dressing
Start by soaking the sunflower seeds in plenty of water for 8 hours. *
Drain the soaking water and wash the seeds.
Put all the ingredients with the exception of the aromatic herbs in a blender and blend until creamy and silky.
Add the herbs and blend again just enough to mix them.
Check the seasonings and adjust if necessary.
This dressing can be stored in an airtight bottle in the refrigerator for up to 2 days.
Salad
Begin by washing and prepping all the vegetables.
Cut the fennel into thin slices. A mandolin helps a lot!
Pick the leaves from the watercress and mint and chop the fennel sprigs and the chives.
Cook the potatoes in boiling water seasoned with a pinch of salt for 10 to 15 minutes until tender.
Remove the potatoes, let cool and cut them into halves or quarters.
Blanch the asparagus and peas in boiling water for 2 or 3 minutes.
Drain and run through cold water to stop cooking.
Gently combine all ingredients in a beautiful salad bowl or serving dish.
Serve with with the dressing and some lemon wedges for a bit more freshness.
Bem vinda de volta e quantas saudades tinha tuas! O teu livro é uma inspiração cheio de informação! Força Joana para está nova aventura!
ResponderEliminarEstou tão feliz que tenhas voltado!!! Sem colocar nenhuma pressão vim aqui tantas vezes para ver se havia novidades! Em busca de inspiração, não de perfeição. Obrigada pela partilha do artigo, das receitas, etc. Um beijinho
ResponderEliminarOlá Joana,
ResponderEliminarQue bom que voltaste, fazes muita falta por cá!
Convivi muitos anos com a depressão (bipolar) da minha mãe, conheço tudo o que descreves e sei o quanto é dificil para o doente, mas também para as pessoas em seu redor. Fico muito feliz que estejas a dar a volta por cima, força que tu consegues.
Eu também andei ausente e até me ri quando falas do bombardeamento de estimulos e inspiração, da exigência que nos impomos com a perfeição... foi um dos motivos, entre outros porque senti necessidade de me afastar, cada post novo era motivo de ansiedade, e isso não podia ser. Quase ao mesmo tempo que tu estou de volta, sem exigências, sem comparações, sem expectativas, estou de volta apenas porque me apetece, porque gosto, porque me dá prazer.
Adorei as tuas fotos e a receita, esse molho vou sem duvida experimentar.
Obrigada por partilhares a tua experiência connosco, o teu testemunho vai certamente inspirar e confortar outras pessoas que trilham caminhos similares. Bjs.
Joana, um beijinho gigante e apertadinho pelas palavras que escreveu. Welcome back
ResponderEliminarUm beijinho grande Joana. Estou em dívida contigo :(
ResponderEliminar🙏
ResponderEliminarBem vinda de volta!!!
ResponderEliminarPassei por aqui muitas vezes... senti falta das tuas receitas e das tuas palavras :)
Bjs
Olá Joana, a forma como descreveste os teus sentimentos foi tão maravilhoso, tão simples, tão honesto.
ResponderEliminarCuriosamente comprei o teu livro este verão e fico muito feliz por voltares a escrever.
TU és diferente das outras...todos somos diferentes e não devemos fazer comparações.
As tuas fotos são lindas, o teu blog é clean, é tão maravilhoso e cheio de amor.
A mim, a meditação e a prática de yoga, ajudam-me muito quando me começo a ir abaixo, mas isso tu já deves saber.
Acredita em TI e continua o teu percurso, não ligues muito às redes sociais, infelizmente os tempos que vivemos são tão artificiais.
Parabéns pela coragem que tiveste em expor os teus sentimentos e sim, é verdade que escrever liberta e consolida.
Segue o teu coração, quem te segue seguir-te-á sempre mesmo que precises de estar ausente, quando voltares cá estaremos.
Um grande beijinho e muita força.
P.S Vou começar a experimentar as tuas receitas.
Cheguei aqui em busca de lindas fotos e receitas mas encontrei muito mais.. agradeço por essas surpresas tão valiosas da vida través da tua partilha! Não sei por onde andas, o post é do ano passado. Vou dar uma espiadinha no insta 💙
ResponderEliminarOlá Joana!
ResponderEliminarNão te conhecia até ter comprado o teu livro, por acaso, pois andava à procura de um outro.
Sinceramente, adorei a estrutura, as receitas, a tua escrita...Parabéns e Obrigada por partilhares as tuas maravilhosas inspirações e sabedoria.
Abraço Profundo!!! Paz e Amor!
Lindo texto, linda Joana :)
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